O melhor do trompete
Johann Sebastian Bach - "Brandemburgo No. 2 em Fá Maior"
Brandemburgo No. 2 é considerado ainda hoje como um dos concertos mais difíceis do repertório escrito para trompete. Poucos são os trompetistas que aceitam o desafio de tocá-la, e um número ainda menor os que realmente são capazes fazê-la. Alguns principais trompetistas de grandes orquestras sinfônicas possuem em seus contratos cláusulas exclusivas onde se recusam a tocar esse concerto.
O cenário é simples:
Primeiramente temos a utilização de um registro extremamente agudo. A existência de inúmeros concertos para o trompete no período barroco é explicada pela grande quantidade de virtuoses desse instrumento na época. Nenhuma dessas obras no entanto exige tanto do instrumentista. Isso nos leva a crer que Bach escreveu esse concerto tendo em mente provavelmente o mais virtuose de todos os trompetistas de seu tempo.
Resolvido o problema de extensão, agora é hora de fazer música de câmara. Como equilibrar o volume sonoro de um trompete tendo como companheiros de solo um violino, um oboé e uma flauta? Vale ressaltar que na grade do concerto as passagens solo do trompete estão em um registro sempre igual ou acima de todos os outros solistas.
O trompetista nessa gravação é o alemão Friedemann Immer. Constam em sua biografia mais de 200 apresentações, algumas delas com o trompete piccolo, mais utilizado atualmente, e outras com o trompete natural, o que aumenta em muito as dificuldades já mencionadas.
Desculpem se pareço exagerar, mas espero que na próxima vez que tiverem a rara oportunidade de assistir ao Brandemburgo No. 2 ao vivo vocês aplaudam o trompetista com bastante entusiasmo ao final do concerto, caso ele faça uma boa apresentação. Caso contrário, dêem-lhe um abraço, certamente será muito bem-vindo.
Clique aqui para assistir ao video recomendado no YouTube com o "Concerto de Brandemburgo N. 2 "
Joseph Haydn - "Concerto para trompete em Mib Maior"
Por diversos motivos o trompete no período clássico perdeu sua importância como instrumento solista. Não fosse o concerto de Joseph Haydn, o destino do trompete seria, no mínimo, bem diferente.
Atribui-se a Anton Weidinger, trompetista da corte vienense, o desenvolvimento de um trompete de chaves, um sistema próximo ao utilizado nos instrumentos de madeira. Esse sistema não somente permitiu ao trompetista tocar uma escala completa no registro grave do instrumento, fato até então impossível nos trompetes naturais utilizados, como também a execução de passagens cromáticas.
Gosto de imaginar a noite de estréia desse concerto. O boato de que Haydn havia escrito um concerto para um novo instrumento, deve ter atraído um público maior que o usual para essa apresentação. Anton Weidinger entra em cena com um instrumento pouco menor e com alguns dispositivos distintos, mas ainda assim parecido com os trompetes da época. O concerto começa. Logo nos primeiros compassos o solista toca um mi bemol, como se reforçasse a harmonia. Pouco depois, dois arpejos de si bemol com sétima. A platéia demonstra uma certa inquietação. As duas primeiras participações do trompete, além de mínimas não apresentam novidade alguma. A sonoridade, devido a construção do instrumento, também estava aquém da conhecida com os trompetes naturais. Passados mais de um minuto de introdução, o trompetista finalmente inicia a frase que mudaria para sempre a história de seu instrumento.
Nessa gravação temos o trompetista David Guerrier, vencedor do concurso Maurice André aos 15 anos de idade, principal trompista da Orquesta Nacional da França, viaja o mundo executando concertos para os dois instrumentos. Guerrier utiliza uma cópia do mesmo instrumento utilizado por Weidinger. É interessante notar a dificuldade de se tocar Haydn com esse instrumento.
Clique aqui para assistir ao video recomendado no YouTube com o "Concerto para trompete em mi bemol maior"
Luciano Berio - "Sequenza X - para trompete em dó e piano resonante"
Odiada por muitos, amada por poucos e ainda desconhecida da maioria dos trompetistas, essa obra é comparada ao Brandemburgo No. 2 de que falamos acima. A comparação é dada ao tremendo esforço fisíco exigido do instrumentista. Berio explorou praticamente todos os efeitos possíveis em um trompete moderno. Frullatos, doodle tongue e outros stacattos, os mais variados possíveis são alternados por toda a obra. A extensão do registro também é expandida, mas dessa vez, uma quarta abaixo do registro usual do instrumento e a variação dinâmica é constante de ppp a fff . O piano participa apenas como instrumento resonante, por isso, durante aproximadamente 15 minutos o trompetista está sozinho no palco com a difícil missão de transformar esse desafio em algo interessante para o ouvinte.
O trompetista e historiador italiano Gabriele Cassone, durante 2 anos, encarou a árdua missão de aprender essa obra, e tocá-la de memória. Com a ajuda de amigos entrou em contato com Luciano Berio e foi a sua casa apresentar o resultado de seu trabalho. Para frustração de Gabriele, Berio mostrou-se muito mais interessado em procurar o melhor lugar para se colocar o microfone que deveria amplificar a resonância do piano que em detalhes na parte do trompete. A gratidão do compositor foi demostrada depois com a indicação de Gabriele para todos os festivais e gravações que requisitavam essa obra.
Clique aqui para assistir ao video recomendado no YouTube com "Sequenza X"
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